Agosto é dedicado à conscientização da esclerose múltipla, doença neurológica autoimune que afeta predominantemente adultos jovens, entre 15 e 50 anos.
No Brasil, estima-se que mais de 40.000 pessoas vivam com o diagnóstico da doença. Nesse cenário, o mês celebra, no dia 30, o dia da Conscientização da esclerose multiplica, como campanha do ‘Agosto Laranja’.
A esclerose múltipla é caracterizada por um ataque do próprio sistema imunológico contra a mielina, uma substância gordurosa que reveste as fibras nervosas (axônios) no cérebro, medula espinhal e nervos ópticos.
Essa “capa” de mielina é essencial para a transmissão dos impulsos elétricos no sistema nervoso. Sua destruição, conhecida como desmielinização, desacelera ou interrompe essa comunicação, resultando nos diversos sintomas da doença.
Além do processo inflamatório e desmielinizante, a esclerose múltipla também pode envolver um componente degenerativo, com perda direta dos axônios e neurônios, contribuindo para a progressão da incapacidade ao longo do tempo.
Embora a causa exata do quadro ainda não seja totalmente conhecida, fatores genéticos e ambientais, como níveis baixos de vitamina D, infecção pelo vírus Epstein-Barr, tabagismo e obesidade podem influenciar no surgimento da doença.
O neurologista Dr. Mateus Boaventura, especialista na área de esclerose múltipla, explica que a doença se manifesta de diferentes formas, que variam conforme o início e a evolução. Os três principais tipos incluem a Esclerose Múltipla Remitente-Recorrente (EMRR), a Primariamente Progressiva (EMPP) e a Secundariamente Progressiva (EMSP).
Em aproximadamente 85% dos casos, a doença se inicia com surtos, que são episódios de novos sintomas neurológicos ou piora de sintomas preexistentes, com duração de dias a semanas. Após um surto, os sintomas podem melhorar total ou parcialmente (remissão), mas tendem a recorrer ao longo do tempo, caracterizando a forma remitente-recorrente.
“Outras manifestações comuns incluem dormência, formigamento nos membros, desequilíbrio, fraqueza muscular, e alterações no controle da bexiga e intestino”, explica o especialista.
Além dos surtos, muitos pacientes experimentam sintomas persistentes mesmo em períodos de remissão, como fadiga crônica, dificuldades de atenção e concentração, e disfunções sexuais, que são frequentemente chamados de "sintomas invisíveis".
Em uma minoria dos casos, menos de 15%, a doença não apresenta surtos definidos e progride lentamente desde o início. Nesta forma, conhecida como Esclerose Múltipla Primariamente Progressiva, os pacientes podem notar uma piora gradual em funções como a marcha, fraqueza muscular, desequilíbrio e declínio cognitivo.
Já a Esclerose Múltipla Secundariamente Progressiva se desenvolve em uma parcela dos pacientes que inicialmente tiveram a forma remitente-recorrente, evoluindo para uma progressão lenta e gradual da incapacidade após vários anos.
Diagnóstico
O processo diagnóstico envolve uma avaliação clínica detalhada dos sintomas, exames de ressonância magnética do cérebro, medula espinhal e nervos ópticos, que revelam as lesões típicas da doença distribuídas em diferentes regiões.
Tratamento
O objetivo principal do tratamento, segundo o neurologista, é prevenir novos surtos, conter a formação de novas lesões cerebrais e medulares e reduzir o acúmulo de incapacidade a longo prazo.
"Cada opção de tratamento possui um perfil único de eficácia e de potenciais efeitos adversos. A escolha é altamente individualizada, considerando as características da doença de cada paciente e suas condições de saúde”, afirma Mateus Boaventura.
“Hoje, um grande percentual de pacientes pode alcançar uma boa qualidade de vida e não evoluir para uma incapacidade neurológica significativa, desde que recebam um diagnóstico e um tratamento precoces e adequados", completa.